quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Modernidade e Exclusão Social

"Triste mundo, que veste quem está vestido e despe quem está nu”
Calderón de La Barca.

Mais um Ano Europeu chega ao fim.
Na calha, o Ano Europeu do Voluntariado.


Da última vez que estive com alunos em Estrasburgo, foi a convite da Câmara Municipal da capital da Alsácia, como prémio pelo nosso trabalho  "L'Europe à Coeur", integrado no concurso "Nous, l'Europe". Do programa de receção às escolas vencedoras, além da visita às instituições europeias, constava um passeio de bateau-mouche pelos canais de Estrasburgo. 


Descobrir tantos jovens, excluídos sociais, nas margens do rio e sob as pontes, foi um choque. Surpreendeu-me ver  autênticos farrapos humanos  no coração de uma Europa abastada e civilizada. Aquele mundo condoía-me, não era  o meu, não me identificava com ele; sentia-me ser do lado de cá, do lado dos afortunados, dos que mandam, descido ao antro de um 'hades' moderno.



Este ano, "Ano Europeu de combate à pobreza e à exclusão social",  compromisso político da União Europeia e dos Estados membros, reafirmado na Carta de Lisboa, conferências internacionais em Lisboa, Bruxelas e noutras capitais europeias encerraram, com pompa, um ano marcado, em Portugal, por um sem número de marchas, seminários, encontros, workshops (em inglês moderno fia mais fino!) e outras atividades,  cofinanciadas pela União Europeia, e destinadas a sensibilizar-nos para as temáticas da pobreza e da exclusão social.




No nosso país criaram-se uma CNA - Comissão Nacional de Acompanhamento,  (tinha que ser)  de trinta e três elementos, presidida por Sua Excelência, a Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social; uma Entidade Nacional de Execução e uma equipa técnica de apoio permanente. Dos eixos estratégicos definidos pela comissão retenho dois: contribuir para a redução da pobreza e responsabilizar o conjunto da sociedade. As newletters da CNA encarregaram-se de propagandear as ações que a dita cuja foi financiando ao logo de 2010.


Em jeito de balanço, confronte-se os resultados esperados e obtidos com o dispêndio de tempo, energias e recursos financeiros, gastos  no ritual de boas intenções. Quem vê os noticiários, sabe o que 2010 trouxe, em termos de empregabilidade e segurança no emprego. Ouve, igualmente, o que declaram aos orgãos de comunicação social, os técnicos de instituições de solidariedade social que lidam com antigos e  novos pobres, idosos, toxico-dependentes, imigrantes, os sem-abrigo e vítimas de exclusão social.  


Tantas manifestações de solidariedade social, ao longo do ano, a que a sociedade civil correspondeu com assistencialismo e voluntariado, redundaram numa sociedade mais inclusa, de mais cidadania ativa?
Consultem-se as estatísticas do Eurostat,   sobre  a evolução da redestribuição da riqueza, nos diferentes Estados da União Europeia.  Seremos nós, cidadãos, que devemos ter vergonha - como declarou o PR - e culpabilizarmo-nos por haver fome em Portugal ou a classe política, eleita para exercer o poder em nosso nome e para nós?


Documentário sobre os sem-abrigo em Lisboa
Sinopse
"As Ruas da Amargura são povoadas por homens e mulheres, de todas as idades, com carências afectivas, financeiras, problemas mentais, alcoolismo, toxicodependência, ou simplesmente pessoas que chegaram a Portugal à procura de uma vida um pouco melhor".





Prémio de Jornalismo do Ano Europeu de 2010
"Una escuela para la Esperanza", reportagem vencedora, na categoria audiovisual. "A Escola da Esperança” aborda o trabalho de integração de alunos de etnia cigana, numa escola pública, de um bairro de habitação social de Sevilha.
Nada de especial, que não se faça nas nossas escolas de bairros problemáticos.


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Festas