sexta-feira, 23 de maio de 2008

Homenagem a Miguel Torga


Encerramento das actividades comemorativas do Nascimento de Miguel Torga (1907 – 2007)

Urzes ( a raíz chama-se torga) trazidas de Trás-os-Montes. As colegas de Português esmeraram-se na homenagem. Em 2007 já tinham levado os alunos da ESSJE a São Martinho de Anta, terra do escritor. Palestra e sarau, desta feita.
Prospecção, de Miguel Torga
Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certez
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.



Palestra
21 de Maio de 2008-05-23

Convidado
Padre Avelino Silva
Companheiro de caça de Miguel Torga

Alunos do 10º e 11º anos
Trabalhos realizados pelos alunos






Organização
Professoras de Português
Albertina Mourato
Manuela Portal


Agradeço às duas colegas terem-me convidado para ler a introdução do texto de Miguel Torga "Um Reino Maravilhoso". Como transmontano, projecto o "regressso às fragas de onde me roubaram". Nessa altura, espero recebê-las em Trás-os-Montes, à boa maneira transmontana "Entre quem é!"
Miguel Torga
Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes)




Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...
Sente-se um calafrio.
A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso










Dois vultos da cultura transmontana, Miguel Torga e Graça de Morais, juntos na obra Um Reino Maravilhoso

Sem comentários: