segunda-feira, 10 de março de 2008

Assim não se pode ser professor

A Europa é a nossa utopia colectiva. Quando ainda se vivia a euforia de Portugal ter aderido à União Europeia, nas aulas de Economia Portuguesa, ensinava aos meus alunos que uma das vantagens da adesão era a aproximação dos salários e das condições de vida dos portugueses às dos países da então denominada CEE. Hoje, ao ver a bandeira azul com as doze estrelas hasteada, pensei nisso e senti um nó, de tristeza, na garganta. No bolso do casaco levava, dobrada, a bandeira da União Europeia, mas não ousei mostrá-la. Dias antes tinha lido no jornal como é a avaliação dos professores na Alemanha e noutros países europeus e, comparando com a que nos querem impor, fiquei indignado com as mentiras que se vão propagando, contra as quais é difícil os professores lutarem.
Sou socialista, porque me chamam comunista?
Alguns artigos aparecidos nos jornais estavam claramente a incentivar a ministra na cruzada contra os professores. No Diário Económico pedia-se à ministra da Educação para ser a Maggie da educação. Margaret Tatcher ficou célebre por ter partido a espinha dorsal ao sindicato dos mineiros. E. Rangel, no CM, insultou os professores, tratando-os como um bando de holligans. Porquê essa raiva toda contra o exercício, pacífico, de um acto de cidadania por parte dos professores?
Da Escola Secundária de São João do Estoril, onde não há delegado sindical nem se fazem reuniões sindicais, que eu saiba, várias dezenas de professores foram à Marcha da Indignação. Uma coisa nunca vista! A revolta alastra. Conversando uns com os outros sentimos que partilhamos as mesmas preocupações quanto ao nosso futuro. Há alturas da vida em que temos de estar num dos lados da barricada.
Desta vez não foi difícil optar: Primeiro, em nome do saneamento das contas públicas, aceitei o sacrifício que me foi pedido, de não ter tido aumento de vencimento. Posteriormente critiquei, numa Carta Aberta à Ministra da Educação, as regras de um concurso ilegal e injusto que me impediu de ser professor titular. Agora, embora tenha idade e tempo de serviço para me reformar no topo da carreira, o ministério mantém congelado o processo de avaliação de professores enquanto um novo modelo, penalizador, não for implementado.





100000! Espantoso!
Uma vaga de gente inundou a Avenida da Liberdade. No final a euforia era geral, refreada agora, com os temores do Day After

Colega reformada, temperada noutras lutas pela dignificação da condição docente, presente para apoiar os colegas no activo.
Marcha da Indignação à passagem pelo Rossio, espaço pequeno para tantos professores! O olhar entristecido deste colega do Norte, quando lhe tirei a foto, perturbou-me. Julgo ser alguém que estaria a sofrer uma ruptura emocional dolorosa, possivelmente, naquele contexto, a viver o conflito entre o dever de obediência partidária e a defesa da sua dignidade de professor.

Aqui está meu cartaz preferido! Educar é uma forma de amar. Concordo plenamente com os jovens colegas da Região Centro. Se não tivesse prazer em ajudar jovens a aumentar o seu conhecimento, já há muito que teria feito como certos teóricos da educação que, após breve passagem falhada pelo ensino, elaboram teorias educativas, desadequadas da realidade, para nos ensinarem a ensinar!


Não são palavras de ordem mas reflectem o sentir de quem as escreve Linguagem imprópria do Rei de Espanha faz escola na Madeira!



Que estará escrito no cartaz? “Paciência, nossa”, ainda consigo traduzir!


Chegada da cabeça da manifestação à Praça do Comércio, às 17 horas. Para fazer a cobertura fotográfica, deixei os colegas de São João no Marquês. Depois, aqui e além, ainda encontrei alguns, perdidos na multidão.

-Camarada, bandeiras partidárias não, por favor!
Parece dizer o sindicalista que se dirige para a senhora idosa com a bandeira do PS. Fiquei sem perceber se ela fazia manguitos aos professores ou se os apoiava.




Os primeiros a chegar foram os professores dos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal.
Até chegarem os do Norte, depois das 19h, havia várias alternativas: ir embora, ouvir os sindicalistas ou ficar de longe a observar.



Fui apanhado a tirar-lhe a foto. lol
Tinha nas costas um autocolante que dizia “De luto e em luta” . Aliás, foram muitos, os grupos organizados, a vestir-se de preto.




"Era o dia da mulher; elas mais uma vez acorreram em força, com eu; deixaram os filhos e maridos e restantes familiares para abanar a arrogância de uma uma ministra autista" Tino, professor transmontano, de Chaves.

















A marcha da indignação terminou de noite, às 19,15 horas, quando os últimos professores do Norte chegaram ao Terreiro do Paço. Entretanto A Portuguesa já tinha sido cantada.

Ouvindo os primeiros comentários do primeiro-ministro sobre a manifestação dos professores fiquei apreensivo com receio de que a falta de diálogo se mantenha e o mal estar social se agrave.

2 comentários:

FC disse...

Ola professor!Entao como esta?Ha algum tempo que nao dou noticias tem toda a razao, nao tenho estado muito pela internet,nem escrito no meu blog nem nada..!Este meu comentario nao é relativo ao seu post sobre os professores mas sim porque faz 1 ano exactamente que estavamos todos,os 6, na nossa grande e inesquecivel viagem.Sim é mesmo a palavra inesquecivel que a uso para caracterizar a viagem.Que saudades..o tempo passa a correr sem duvida alguma!!
Cada vez mais levo a expressao "carpe diem" mais a serio.."vivam cada dia como se fosse o ultimo".

Um grande abraco do seu ex aluno,




Francisco Catarino

Anónimo disse...

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